O que a faculdade nos provocou?

A ideia deste tópico veio depois que notei que muitos dos membros veteranos daqui estão na faculdade, ou terminando, ou já terminaram. Eu, inclusive, só tenho um TCC para fazer, porque as aulas mesmo já passei por todas. Então, proponho aos que estão se graduando ou já se graduaram uma reflexão: o que a faculdade fez para você? Quais problemas enfrentaram? E o mais importante, quais os aprendizados que tiveram?

E aos que não entraram numa faculdade ainda ou nem querem fazer uma, podem contribuir com opiniões ou perguntas.

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Começando por mim.

Entrei numa universidade pública em 2014 com 16 anos para cursar Design Gráfico a fim de trabalhar com game design. O primeiro semestre foi maravilhoso, eu tinha muita vontade de aprender e era tudo tão bom! Porém, no segundo as coisas começaram a mudar: colegas de salas começaram a disputar entre si pelo melhor trabalho, vieram professores escrotos e muitas falsianes. No terceiro semestre comecei a desenvolver crises de ansiedade e um dia tive falta de ar no campus, fazendo uma professora me dispensar da aula e chamar uma ambulância.

E o mais engraçado que não era só comigo. Vários colegas começaram a desenvolver problemas de saúde. Não era só a pressão das aulas e professores ruins (alguns aliás nem tinham formação em design): era o ambiente social. Não estávamos em um lugar colaborativo, e sim num ninho de cobras.

Acho que só consegui me estabilizar este ano, 2017. Encontrei pessoas generosas fora do meu curso (faço disciplinas eletivas em outros campus) que me ajudaram a não desistir e a não desenvolver uma depressão ferrenha. E foram essas pessoas de outros cursos que para mim foi a parte positiva da faculdade: eu comecei a aprender sobre coisas que até então não me interessava, e por isso meus planos de me dedicar totalmente ao game design mudaram. Atualmente decidi que irei seguir uma carreira multidisciplinar de design e pesquisas.

Apesar das dificuldades, eu encontrei meu porto seguro com colegas e professores que realmente me apoiavam, criando fortes laços de amizade. Eu não sei o que seria de mim se eu não tivesse entrado neste curso. Teria muito azar se não tivesse conhecido essas pessoas.

Meu problema não foi nem com a faculdade em si, pq isso de rivalidade e fofoca tem em tudo que é lugar, professor ruim idem. Fiz só o 1º semestre de Letras e tava gostando, mas percebi que a área de educação está passando por problemas maiores do que eu imaginava (e tendendo a piorar!). No fim das contas resolvi cair fora!

Eu comecei o primeiro curso em 2009, ia bem no início mas já no ano seguinte comecei a não dar conta e eventualmente reprovei. Como usava bolsa do ProUni, não pude manter devido as notas e acabei perdendo. Passei um ano sem estudar, sem trabalhar, só em casa no computador, foi nesse ano que eu voltei a assistir Digimon e criei a DZ (2011). Em 2011 ainda fiz o ENEM de novo e passei pra uma faculdade federal, fiquei mto feliz e crente de que agora ia dar certo. Estava enganado.

O ritmo na federal é muito mais intenso e acelerado, eu tava enferrujado de passar um ano sem estudar e não consegui acompanhar já desde o início. Semestre após semestre eu só reprovava em mais e mais disciplinas e minha motivação cada vez menor, só não larguei nessa época porque ficaria sem absolutamente nada, já que nem emprego eu tinha. Nisso em 2013 eu tive um problema e não consegui me matricular no semestre, esse tempo acabou me ajudando a encontrar motivação pra continuar, o que me ajudou a recuperar o ritmo em 2014.

Em 2014 minhas notas melhoraram muito, eu fiz prova pra um concurso estadual daqui (que eu acabei sendo convocado em 2015 e tô lá até hoje, graças a Deus). Mesmo com as notas melhores, eu não tinha mais nenhum tesão pelo curso, achava tudo chato e boring, nem as notas me deixavam feliz. No ano seguinte comecei a trabalhar e isso tirou novamente meu foco dos estudos, em parte por ser uma experiência totalmente nova e interessante pra mim, e também porque eu tinha muito que aprender no trabalho e me adaptar. Resultado: reprovei de novo, ainda mais do que antes. Mas dessa vez eu nem me importava tanto, já tinha acostumado. Em 2016 foi um pouco melhor, no primeiro semestre, mas no segundo eu não aguentei e simplesmente parei de ir às aulas. Tentei me motivar a continuar esse ano, me esforcei bastante no primeiro semestre de 2017, mas ainda assim reprovei. Foi então que eu decidi que já não dava mais pra continuar.

Depois de anos tentando terminar a faculdade, eu decidi que meus esforços não eram suficientes, que aquilo tudo só tava me consumindo e destruindo minha saúde mental e emocional, e sem me dar qualquer resultado em troca. Então tranquei. Foi uma decisão muito difícil, mas foi libertador. Senti como se tivesse assinado minha carta de alforria. Todo mundo acha que o que eu fiz foi loucura, mas a maioria não acredita quando eu digo o quanto eu ia mal no curso e a quanto tempo eu tava fazendo.

Enfim, pra mim não deu certo, o lado bom é que tanto tombo me fez crescer e amadurecer bastante, me mostrou que eu aguento até bem as porradas da vida kkkkk. E quem sabe um dia eu tente de novo, sei lá, quando eu tiver motivação de verdade. Mas por enquanto tô curtindo minha liberdade, é bom não sentir culpa nem me sentir um lixo pela primeira vez em quantos anos? Desde 2010 acho, realmente eu aguentei até demais.

Em 2016 eu reprovei o fuckin' TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO. Coisa que eu achava impossível até então. Passei dezembro e janeiro muito deprimido e me sentindo um fracasso, pois estava planejando o que faria com a minha vida quando a escola acabasse. Planejava desde o início do ano cair de cabeça na minha carreira com a música, mas reprovar acabou me atrasando e me lembrando diariamente desse fracasso. Nisso, fui pra escola pública e lá finalmente me senti confortável em ir pra escola. As pessoas, apesar de muito brincalhonas e me encherem o saco as vezes, eram muito mais humildes do que os playboys babacas com quem eu tinha que conviver na escola particular. Se eu soubesse teria ido desde o primeiro ano do ensino médio pra conseguir uma cota no ENEM.

No meio do ano fiz uma prova no EJA (Ensino de Jovens e Adultos) para conseguir meu diploma do ensino médio antes do fim de 2017 e consegui. Finalmente não me sentia mais um lesado repetente. Acontece que a escola nunca foi meu forte. Sempre detestei ter que ir pra escola. A única aula que eu gostava era a de Artes e de Educação Física.

Ainda no meio do ano eu passei num vestibular para uma faculdade privada no curso de Psicologia. Fiz apenas um período e larguei. O universo me fez perceber de uma vez por todas que eu não consigo estudar coisas que não me interessam nem um pouco. Pensei que fosse me identificar com o curso e me divertir enquanto estudava, mas nenhum dos resultados finais era o que queria pra minha vida.

Atualmente estou trabalhando meio período com meu pai e estudando teoria musical de noite. De tarde eu ando de skate ou faço algum outra atividade física. Quero passar para Música na universidade federal.

Estou me dedicando a minha banda e planejo lançar um EP solo em 2018 além de um EP da banda mesmo. E é isso.

Lawliet escreveu:Pensei que fosse me identificar com o curso e me divertir enquanto estudava, mas nenhum dos resultados finais era o que queria pra minha vida.  

Ah, isso é bem comum na real. Mesmo em Design que supostamente é uma área que gosto eu quase arranquei os cabelos com aulas que me deixavam muito desconfortável e me faziam sentir de que eu não estava aprendendo de verdade. Era uma ou outra matéria que me agradavam, mas a maior parte da grade horária me deixava com nojo. Já ouvi alguns professores comentarem que a faculdade deveria ter poucas disciplinas obrigatórias (para dar base) e muitas disciplinas optativas (em que o aluno pudesse escolher aquilo que mais agradasse). Obviamente não veremos isso acontecer tão cedo...

Terminei o EM ano passado, fiquei muito feliz de não ter que perder meu tempo naquele lugar deprimente e estava confiante porque ''sabia'' que com a nota que eu tinha tirado no ENEM dava pra passar em Agronomia, que era o curso que basicamente correspondeu a todas as minhas necessidades irreais tirando o fato de que eu ODEIO TODAS AS GRADES DESSE CURSO. Aí meu caro gafanhoto, você se pergunta a razão que me levou a escolher essa graduação e a resposta é:
              * Eu realmente não sabia o que escolher
              * Eu queria o mais rápido possível sair da minha cidade do interior
              * A nota dele nas federais não são tão altas
              * Acreditei que ele iria satisfazer minha necessidade de convivência com a natureza (criado em cidade do interior né)

Essa confiança só durou até o Sisu desse ano quando eu percebi que realmente não fazia ideia nenhuma do que fazer e minhas convicções a respeito daquele curso eram completamente irreais e sem fundamento nenhum, até mesmo um pouco ingênuas.
Enfim, passei, fiz a matrícula numa federal que está a 900km da minha cidade, paguei 300 reais de kitnet e na hora ''H'' não fui. Não fui porque sabia que eu iria desistir pois não tinha como fazer um curso onde eu não gostava nenhum pouco matérias que seriam administradas nele.
Depois desse choque, quase entrei em depressão porque vi minhas convicções caírem por terra, achei que estava perdendo completamente meu tempo, que não seria ninguém, além do  incrível prodígio fracassado. Porém, repensei sobre toda minha situação e mudei completamente minha visão de mundo o que fez com que esse ano eu ficasse  estudando através de um cursinho online para tentar algo que eu realmente me sinta seguro e que possa visionar um futuro concreto por meio dele.

Agora estou esperando esse próximo Sisu para tentar passar em Direito numa federal próxima (UFMS) ou até mesmo um pouco mais longe (UFMT). E estou finalmente em paz com minha consciência sabendo que fiz a escolha certa, e isso meus amigos, eu posso garantir que não existe dinheiro, fama, sucesso, que pague por isso.

Marcy escreveu:

Lawliet escreveu:Pensei que fosse me identificar com o curso e me divertir enquanto estudava, mas nenhum dos resultados finais era o que queria pra minha vida.  

Ah, isso é bem comum na real. Mesmo em Design que supostamente é uma área que gosto eu quase arranquei os cabelos com aulas que me deixavam muito desconfortável e me faziam sentir de que eu não estava aprendendo de verdade. Era uma ou outra matéria que me agradavam, mas a maior parte da grade horária me deixava com nojo. Já ouvi alguns professores comentarem que a faculdade deveria ter poucas disciplinas obrigatórias (para dar base) e muitas disciplinas optativas (em que o aluno pudesse escolher aquilo que mais agradasse). Obviamente não veremos isso acontecer tão cedo...

Pois é. Percebi que pra mim não funciona trabalhar com coisas que eu não gosto. Pensei que fosse gostar do curso de Psicologia mas acabei me decepcionando bastante. Nada me agradava lá.

Você tem bastante sorte btw. De ter entrado na faculdade com 16 anos. Queria ter entrado na mesma idade no curso que eu quero. Parabéns pela conclusão.

Lawliet escreveu:

Marcy escreveu:

Lawliet escreveu:Pensei que fosse me identificar com o curso e me divertir enquanto estudava, mas nenhum dos resultados finais era o que queria pra minha vida.  

Ah, isso é bem comum na real. Mesmo em Design que supostamente é uma área que gosto eu quase arranquei os cabelos com aulas que me deixavam muito desconfortável e me faziam sentir de que eu não estava aprendendo de verdade. Era uma ou outra matéria que me agradavam, mas a maior parte da grade horária me deixava com nojo. Já ouvi alguns professores comentarem que a faculdade deveria ter poucas disciplinas obrigatórias (para dar base) e muitas disciplinas optativas (em que o aluno pudesse escolher aquilo que mais agradasse). Obviamente não veremos isso acontecer tão cedo...

Pois é. Percebi que pra mim não funciona trabalhar com coisas que eu não gosto. Pensei que fosse gostar do curso de Psicologia mas acabei me decepcionando bastante. Nada me agradava lá.

Você tem bastante sorte btw. De ter entrado na faculdade com 16 anos. Queria ter entrado na mesma idade no curso que eu quero. Parabéns pela conclusão.

Não acho que entrar com 16 anos foi uma boa ideia não, eu queria ter pensado melhor. Depois que me formar inclusive pretendo fazer vestibular de novo para Artes Visuais, que é o curso que realmente me atrai e já fiz algumas aulas nele.

De qualquer forma, eu aprendi que boa parte do que a gente aprende a faculdade não nos dá de bandeja. Precisamos ir a congressos, palestras, fazer cursos de curta duração, fazer estágio, assistir a vídeos e ler, mas ler muito, para que possamos absorver o que for útil, porque as aulas mesmo não jogam tudo o que é importante.

Marcy escreveu:De qualquer forma, eu aprendi que boa parte do que a gente aprende a faculdade não nos dá de bandeja. Precisamos ir a congressos, palestras, fazer cursos de curta duração, fazer estágio, assistir a vídeos e ler, mas ler muito, para que possamos absorver o que for útil, porque as aulas mesmo não jogam tudo o que é importante.

Isso mostra o quão importante é essa decisão de escolher um curso. Esse sistema de sair do ensino médio e já escolher uma profissão é um tanto ultrapassada, é claro que vão ter aqueles que desde que nasceram já sabem o que quer, mas a maioria que sai pro mundo aos 18 não tem noção de como o mundo é duro e isso pode acarretar em decisões precipitadas como a minha no passado.

A grande vdd é que fazer faculdade sendo pobre e trabalhando ao mesmo tempo é foda.